terça-feira, 28 de outubro de 2008

Pequenos Consertos - Casaco verde



O blazer verde-claro (mais aguado, talvez, azulado, acinzentado, não sei) já estava mais do que estafado, mas como tem uma cor gira comecei a epopeia de voltá-lo do avesso. Foi um trabalho difícil, andei arrastada durante duas semanas a descolar vieseline que deve ser o mesmo que entretela, um tecido branco bem coladinho, bem agarradinho que é preciso descolar milímetro a milímetro com os dedinhos. - Mas pronto, já está!

Agora, é tudo mais fácil é só voltar a colar a tela no lado do avesso e coser as costurinhas, depois serão batidas (muito bem batidas) com o ferro de engomar.
Mas o pior vai ser remontar a gola. Estava gasta, puída, coçada, lavei-a , mas pouco ganhei com o trabalho. Andei dois ou três dias sem encontrar solução para o assunto, mas de repente fez-se luz, como se costuma dizer, e lembrei-me que podia cortar tecido do lado interior das bandas. Cortei, mas ainda foi necessária alguma ginástica para que as inevitáveis costuras não aparecessem mesmo ali à frente.
Quando foi preciso montar a gola desesperei. Não gosto de desistir e deixar qualquer projecto a meio, mas desta vez estava a ver que não tinha outro remédio. Este pequeno conserto estava a transformar-se num grande, enorme, monstruoso conserto.

Valeu-me um dos muitos blogues que se dedicam também a estes trabalhos.
O primeiro que descobri foi traposetrapalhadas.blogspot.com/ com produção farta que abrandou agora com o nascimento da Mariana - que está linda!
Couture et tricot tanysewsandknits.blogspot.com/levou-me até para Paco Peralta pacoperaltarovira.blogspot.com/e foi ele que me valeu com as fotografias e as indicações preciosas dos passos a seguir.

Já tenho solução para tapar as casas que ficarão, inevitavelmente, do lado contrário. De caminho tapo também as algibeiras. Como o blazer vai ficar mais curto, acho que é melhor ficar sem algibeiras.

sábado, 25 de outubro de 2008

A Semana



Já tenho alguma idade (não tanta como a Anita - a dos livros, mas quase a da Barbie - a boneca que dispensa apresentações), mesmo assim ainda algumas coisas me são difíceis de entender. Custa-me entender o facto dos economistas analisarem a sociedade, e o modo como nela nos organizamos para sobreviver, com se estivessem a tratar, com muito cuidado, do seu número de prestidigitação, no circo em que se está a transformar a vida no globo terrestre. Não sei, também, se nestas andanças se socorrem da ajuda de gestores, aquelas personagens que se esquecem sempre que para que o espectáculo circense se transforme num sucesso precisa de pessoas, espectadores, portanto.
Quando revelo a minha dificuldade em entender uma sociedade onde as pessoas podem ter «tudo» mas em contrapartida tem de estar reféns dos banqueiros, acusam-me de ser uma espécie de "botas". Talvez a minha aurea mediocritas seja salazarista, mas mas não acredito que se respire livremente quando se está amarrado ao crédito.
Ainda assim, na cena nacional há um ou outro economista que me agrada ouvir. Entre eles e um dos meus preferido:Silva Lopes.
Este economista, para quem o endividamente das famílias é um problema, defende a poupança obrigatória, que seria realizada através de uma combinação com a SegurançaSocial.
Silva Lopes diz ainda ao Expresso que a crise - «Vai ser pior, a não ser que por milagre nos continuem a emprestar muito dinheiro...
Poupar não é fácil, principalmente num país que está habituado há vários anos a viver acima das suas possibilidades. Significa consumir menos e isso implica ir menos ao restaurante, ao cabeleireiro e menos a essas coisas todas e isso vai causar desemprego. É um diabo de um problema.»

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

A Semana


Privilégios
Ópera
Ir à ópera é um privilégio. Eu considero assim. Um espectáculo que não está ao alcance de todos; uns por não poderem, outros por não gostarem, outros por não terem dado por nada.
Quando entro no teatro S. Carlos constato que pertenço a uma minoria de portugueses que pode usufruir de toda aquela beleza. Poder estar sentada num camarote, ver e ouvir Siegrfied é um privilégio.
Jorge Calado na crítica que fez no Actual agradece a Pinamonte. Eu também, mas não posso esquecer de agradecer ao Estado português, logo aos portugueses.

Nunca fui a Bayreuth nem a Salzburg. Também nunca entrei na ópera de Paris nem no Alla Scala. Gostaria de ir um dia, quem sabe.
Falhei por pouco a Flauta Mágica no Met de Nova Iorque. Gosto da programação, o desfilar de todos os nomes que gostaria de ver. Agradou-me toda a azáfama de velhinhas que à 1 da tarde saem de táxis para ir a assistir a muito do que por ali acontece. Divirto-me a ver a programação de cada ano.

Aniversário

Fazer anos e ter prendas de que se gosta muito. É bom e é um privilégio.

Um dia de férias

Andar de manhã pela baixa de Lisboa, como se fosse turista. É bom e também é um privilégio.

Tudo

Não estar doente e poder apreciar cada pedacinho de tudo. É bom e é um privilégio.

Crise

Parecia que tinha acabado. Andava toda a gente contentinha a pensar ir pedir mais crédito. Afinal não acabou. Afinal não sabem se acabou.

Tudo ou nada

O que é assim de repente pode ser o contrário.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

A Semana



Ela canta, pobre ceifeira

Ela canta, pobre ceifeira,
Julgando-se feliz talvez;
Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia
De alegre e anônima viuvez,
Ondula como um canto de ave
No ar limpo como um limiar,
E há curvas no enredo suave
Do som que ela tem a cantar.

Ouvi-la alegra e entristece,
Na sua voz há o campo e a lida,
E canta como se tivesse
Mais razões pra cantar que a vida.

Ah, canta, canta sem razão !
O que em mim sente 'stá pensando.
Derrama no meu coração a tua incerta voz ondeando !

Ah, poder ser tu, sendo eu !
Ter a tua alegre inconsciência,
E a consciência disso ! Ó céu !
Ó campo ! Ó canção !

A ciência Pesa tanto e a vida é tão breve !

Entrai por mim dentro ! Tornai

Minha alma a vossa sombra leve !
Depois, levando-me, passai !

Fernando Pessoa


Inquietante. No mínimo é o que se pode dizer sobre a semana que acaba.

Estará o mundo desgovernado? Quem não gostaria, agora, de ser como

a pobre ceifeira que canta.


Dinis Machado


Há trinta anos, O Que Diz Molero era motivo de conversa em todas

as tertúlias de café.

Lá de casa já desapareceu essa edição e a mais recente, também, anda

desaparecida. «O caso do livro desaparecido» um nome possível para

um policial que McShade poderia ter escrito. Nunca se recupera um

livro emprestado e nos casos em que isso acontece é sempre pela mão

de pessoas que já não se usam, as do seu a seu dono.


Nobel


Jean-Marie Gustave Le Clézio ganhou o prémio. Nunca li nada que

tivesse escrito. Não é por não gostar da obra é por não a conhecer.

Vou ler, mas primeiro tenho de ler os livros de Doris Lessing , que

ganhou o prémio o ano passado ou no outro já nem sei pois também

não li o Pamuk.A propósito do prémio passiei pelos blogues e

constatei que ainda não li La Possibilité d’Une Île de Michel Houellebecq.

Quando foi publicado todos diziam que era do melhor que tinha sido

escrito. Na ânsia de ler e como não havia tradução comprei a edição francesa.

Até hoje.

Hoje estou azeda


E porque?

Não li os livros que gostava de ter lido. Tenho sempre pouco tempo.

O tempo esboroa-se-me por entre os dedos. Tenho de encontrar

maneira de alterar este meu pendor para perder tempo. Esta porcaria

cola-se à pele como doença contagiosa. No final de um dia de

trabalho, ainda assim são 7 horas, saio com a certeza de ter perdido

tempo precioso. Quem sabe se sentiria o mesmo se estivesse as

mesmas horas a semear batatas, a sachar ou a varejar . Como se

tudo isto não fosse um problema, um problema dos grandes,

entramos agora numa nova era. Um tempo em que deveríamos

estar unidos. Mas ao invés, estamos, muito de nós, convencidos

que é possível sobreviver sem os outros, fechados sobre nós e

os nossos.


AIG de férias


A AIG só não faliu porque o Estado lhe deitou a mão. Salvaram-se

de boa os americanos que têm lá a reforma.

Agora, que tudo está resolvido, os responsáveis pela empresa e pelo

prejuízo foram de férias. É o repouso do guerreiro. Mas ainda há quem

se indigne.






sexta-feira, 3 de outubro de 2008

A Semana




O Aprendiz de Feiticeiro

Pouco tempo depois de ter ido para a escola li O Aprendiz de Feiticeiro, uma edição Romano Torres de 1946.
A leitura decorreu normalmente, se não levarmos em conta alguns tropeços naturais de quem ainda mal sabe ler. A certa altura a história tornou-se menos interessante, aborrecida, pode dizer-se. Os meus poucos anos e muita inocência deram-se mal com o desenlace da acção. Como é que o aprendiz de feiticeiro, o jovem Sig, na posse de poderes fantásticos, deita tudo a perder no final?
Uma lição, sem dúvida. Por isso, não me espanta a trapalhada a que assistimos agora. Os CEO, anglo-saxónicos, os PDG, francófonos, e todos os que têm responsabilidade mais parecem o jovem Sig. Os banqueiros, tal como o pai de Sig, encomendaram-se a estes homens com o intuito de ver multiplicado, por muito mais, o seu dinheiro. Conseguiram, conseguem sempre. A crise já chegou à Suécia , mas, ao que se sabe, ainda não chegou à Suiça.

Há mais vida para além da crise?

Talvez haja. Como sempre há muita coisa interessante a acontecer nos quatro cantos do mundo. Mas o que mais tem interessado é, sem dúvida alguma, a crise, o crash, o cash, sobretudo o cash.
Cash flow, rate, liquidity, produtos tóxicos, taxa euribor, libor, crise estrutural, rate, liquidity, são também palavras que não saem da boca de todos. Se há mais vida nem se dá por ela.
Faço votos para que os americanos se salvem nem que para isso precisem do Plano Paulson.

«Vale Tudo»

Lamentável, Vale e Azevedo está, neste momento, a viver num luxuoso hotel em Londres. E porquê? Pois bem; Vale e Azevedo arrendou uma casa cara, mas sem condições. Ao fim de 12 meses ou porque o senhorio tivesse reclamado o pagamento ou por qualquer outra razão que não vem ao caso, Vale e Azevedo instalou-se no hotel enquanto não se muda para a nova casa que comprou.
Vale e Azevedo conhecedor das leis não pagou a renda e creio que não terá, também, de pagar o hotel e acredito que será indemnizado pelo transtorno.

Os ingleses que se cuidem pois este nosso conterrâneo já não tem muito a ver com os emigrantes que exportamos há uns anos.

Casas da Câmara

Durante a semana este assunto foi ganhando forma e poderá tomar proporções difíceis de controlar. Quando digo controlar estou a pensar em calar, esconder, não referir, evitar etc.
Não me espanta que haja tanta gente de bem com casa da Câmara. Se as casas fossem no bairro da Curraleira ou no da Fonte ficaria espantada, mas como são em zonas nobres não me espanto.
O que me espanta é a Câmara de Lisboa não saber a extensão do seu património. Com tanto funcionário bastaria papel e lápis para dar conta do recado.

Joana Amaral Dias

A Joaninha, como lhe chama o João Gonçalves do Portugal dos Pequeninos, é de facto uma criatura enervante. Tenho pena dos desgraçados que têm de participar no debate com ela. Apre!