"O ano em revista" lembra qualquer coisa que andava no ar de antigamente. Agora as coisas são mais simples. Os anos passam mais depressa, mas já não deixam marcas. E quando se quer passá-lo em revista é difícil e é preciso apertar bem os olhos, como fazem as crianças, para tentar trazer à memória algo que valha a pena.
Vejamos, talvez a cama aquecida, bem quentinha, para onde apetece ir ler antes de adormecer, ou as idas à sessão da meia-noite para ver aqueles filmes que os críticos asseveraram imperdíveis. Também os passeios pela cidade, à sexta-feira à tarde, antes de ir jantar. Uma cidade onde não faltam as avenidas largas, as lojas de montras brilhantes, o trânsito caótico, o anoitecer luminoso. Os livros que não foram lidos como se tinham pensado, os papéis que não foram arrumados e tudo o mais que se pensou fazer e que ficou incompleto.
Mas o Ano Novo é sempre um tempo renovado, novinho em folha e por isso se inaugura a primeria página da agenda. Vontades que se registam nas folhas em branco, as idas ao ginásio, as palavras da língua que se quer aprender, livros que têm de ser lidos, viagens que se organizam mentalmente, tudo registadinho e pronto a ser feito.