quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Pequenos Consertos - A vida



São estes os apetrechos com que sempre resolvi os meus problemas de costura. Agulha, linha, dedal e tesoura foram suficientes, durante anos, para a produção lá de casa.
Quando me iniciei na transformação, modificação, renovação, reciclagem de roupa usada, tiveram pena de mim e ofereceram-me uma máquina de costura. Assustei-me com tanta roldana e botão, mas graças ao livro de instruções tudo se resolveu.

Agora, como George Soros e os economistas mais pessimistas avisam que o pior da crise está para vir, começo a pensar «voltar a roupa do avesso» como se fazia antigamente. A propósito destas habilidades lembrei-me de uma crónica de Lobo Antunes. Não resisti e fui relê-la.
«Eu herdava-lhe as camisas de monograma, um F e um E cuidadosamente bordados, camisas adaptadas pela minha mãe ao meu tronco de rãzinha adolescente, F e E que, ao despir-me para a ginástica, no liceu, apareciam, de pernas para o ar, na fralda, nas costas, nos sovacos, devido às cirurgias de tesoura e agulha da autora da minha existência.
Às segundas e quintas-feiras uma assembleia de colegas rodeava-me no vestiário, fazendo apostas sobre a localização das letras….. E o tio Eloy tornou-se, sem o saber, o ídolo do 4º A.»